Uma "Branca de Neve" que desliza como poucas
Se fosse um prato de culinária de um programa de televisão, o chef diria "um clássico com uma reviravolta". Está lá o essencial e mais alguma coisa. "Branca de Neve no Gelo" não é de comer, é de ver, para crianças, e está até 10 de janeiro do centro comercial Alegro, adaptando o conto tradicional publicado pela primeira vez em 1812 pelos irmãos Grimm. Numa pista de gelo e com música.
Mantêm-se as personagens de sempre, mas entram em cena um mordomo para todo o serviço, Boneville, e o irmão do caçador, que quer afinal ser bailarino e não matar princesas. "Achamos que é mais desafiante para nós criadores ter uma margem maior para adaptar", diz João Guimarães, encenador, ator e autor das letras com Ana Queirós. "Temos muito público mais adulto a ver a peça", acrescenta sobre os motivos para incluir estas diferenças na peça. "Temos de interessar ao público mais velho".
João Guimarães interpreta Boneville, nas ausências do ator que habitualmente faz este papel. "É uma personagem que eu adoro fazer. Foi inteligente da nossa parte, perdoe-me a falta de modéstia". Ri-se. É a personagem que vive o conflito: manter-se fiel à rainha ou apoiar Branca de Neve?
A dramaturgia é de Joana Quelhas, a música é de Artur Guimarães (irmão de João). "São 100% originais", assegura. "Tudo feito de raiz". A inspiração é evidente: os filmes da Disney, uma referência que João aceita com naturalidade, no fim do ensaio da peça, na véspera do arranque da temporada, a 20 de novembro. Mas há outras referências, que João põe em cima da mesa: o teatro musical (que ensina numa escola), o novo circo e, como não podia deixar de ser quando o assunto mete patins, os espetáculos "Disney on Ice".
A peça estreou-se há um ano no Mar Shopping do Porto, e é a segunda adaptação que os 4 criadores -- Ana Queirós, Ana Quelhas, João e Artur Guimarães -- fazem. Há três anos fizeram o "Quebra Nozes", por encomenda da AM Live, a empresa que detém as pistas de gelo e que, até aí, fazia a decoração dos shoppings.
A novidade em 2015, em Lisboa, é a rainha má. Sai Rita Ribeiro, entra Maria Henrique. Mas, como inicialmente planeado, não patina. "Foi uma opção artística", garante João Guimarães. Não por isso se torna mais fácil, adverte a nova rainha. "Se estou dez segundos no mesmo sítio, fico colada", explica, apontando para as plataformas que usa em cena.
Três semanas de ensaios intensos
Atuar numa pista de gelo é novidade para atriz, que completa 25 de carreira em janeiro de 2016. Dos musicais é fã. "É ainda mais mágico". Na "Branca de Neve no Gelo" é a rainha Renata, uma personagem "fascinante". Não lhe vê apenas perfídia. "É uma mulher ultrapassada pela juventude de outra. Quem escreveu esta história mostra que ela já foi uma Branca de Neve", diz.
É nos pés que se joga parte do dramatismo da peça. Há os que usam patins e deslizam pela cena como príncipe (Isaac Alfaiate), a Branca de Neve (Carina Leitão) e o caçador (Afonso Vilela), e os que têm um sapato que desliza e outro que trava: os sete anões. Ficam 15 centímetros mais baixos do que as outras personagens, mais um um truque para dar a sensação de que são anões.
Isaac Alfaiate diz que não precisaram de nada para manter a forma. "Estava com um pouco de receio de voltar aos patins, mas quando os calcei comecei logo a andar", conta. Carina Leitão diz que a primeira abordagem ao gelo foi de desconfiança. Chegou a praticar na pista de gelo que existe em Aveiro.
João conta ao DN que a equipa tem patinadores profissionais e uma pista de gelo no Freixo, Porto, à disposição para praticar os espetáculos. Seis semanas se for novo, como é o caso da "Cinderela" que está agora no Mar Shopping, com Liliana Santos, José Fidalgo e Helena Laureano, três se for uma reposição como é o caso de "Branca de Neve".
"Branca de Neve no Gelo"
Centro Comercial Alegro
Até 10 de janeiro
Sessões às sextas-feiras (21.30), sábados (15.00, 18.00, 21.30) e domingo (11.00, 15.30, 18.00)